Bastaram poucos minutos para o desfecho do jogo trazer à superfície a forma como neste País vivemos, numa aparente particularidade nacional, na eterna alternância entre a total euforia e o rotundo desastre, entre sermos os melhores do Mundo, que todos temem e ninguém quer enfrentar, e o mais fraco adversário que se pode escolher, o que nos leva olhar para homens normais como se do lado oposto estivessem gigantes.
É a eterna dúvida entre o oito e o oitenta, um provérbio que suspeito ser exclusivo lusitano, pelo menos nesta exacta expressão, que nos leva a omitir as críticas nos momentos favoráveis e a exacerbá-las nas horas negativas. Se olharmos para a nossa história não é incompreensível que a alma nacional assim funcione, porque efectivamente alternámos entre um breve período de brilhantismo, que nos colocou por umas quantas gerações no topo do mundo, e longos períodos entre a relativa discrição e a pura e simples mediocridade.
Os povos, como as pessoas, são moldados tanto pelas condições que encontram à partida como pelos acontecimentos que marcaram as suas vidas. Sou, como a maioria dos portugueses, um patriota, quanto mais não seja por reservar a mim mesmo e aos meus compatriotas a nobre tarefa de maldizer o meu País, não admitindo que um estrangeiro, qual visita mal educada, se aproxime sequer da forma feroz como somos capazes de lamentar o triste fado de ter nascido neste jardim á beira-mar plantado.
Hoje, quando decorreu a maior de todas as manifestações tribais que a nossa sociedade conhece, um jogo de futebol do Campeonato do Mundo, ainda por cima contra a tribo vizinha com quem acumulámos rivalidades em toda a história, qualquer observador atento repararia no melhor e no pior dos portugueses, da passagem da euforia à desgraça num par de horas até à incapacidade de simplesmente admitir que, nem que fosse apenas hoje, perdemos porque o nosso adversário foi melhor e mais forte.
Nestas alturas, não sou menos português do que qualquer outro, mas o céptico que há em mim, e o espírito curioso que questiona até a mais óbvia das verdades absolutas que a sociedade não chega sequer e impôr-nos, porque a aceitamos sem questionar, acaba por falar mais alto. Aí lembro-me que o comportamento bipolar que assumimos como País e sociedade não é a única forma de ver o Mundo, e que basta viajar um pouco para ver a paz interior que é possível ganhar ao aceitar que não temos que reagir a esta derrota como reagimos a todas as anteriores, e como reagem todos aqueles que nos rodeiam, pelo menos de forma que pareça não existir outra resposta possível.
Nestes momentos, lembro-me sempre que nada nos diz que a escolha tenha forçosamente que ser entre o oito e o oitenta, até porque como (também) diz o povo, algures no meio há-de estar a virtude, e a nossa vida seria muitíssimo mais fácil se pudéssemos ser portugueses sem ter fazer constantemente esta cansativa escolha, entre o topo da montanha e o mais profundo leito dos oceanos.
"macaco nu", aquele clássico que fala tanto do tema. assim como nós o somos em falar mal de nós, de nós não, dos outros. e assim perdemos, lá se vão as vuvuzelas. ficam a ganhar os jogadores, os empresários da bola, as companhias aéreas e a galp. economia crescente que em nada me parece que ajude a do pais. e enquanto nos ostros nos lamentávamos, aumentaram os impostos, porque é hoje 4º feira e o IVA já subiu, mas disfarçado de portagens que poderão deixar de ser pagas nas localidades com menos poder de compra, o que devia significar o Portugal inteiro menos, não algumas localidades, mas talvez ruas, onde se exclui a da própria assembleia. mas enfim, assim o quis a maioria. resta-nos que a esperança passe à pratica, assim como as tuas palavras passaram para aqui, salvo seja que te falta ai qualquer coisa na ultima frase. e concluindo: ora lá tinha eu razão, ou não tinha? belo post, este mais um!
ReplyDeleteB: Thanks... e faltava uma palavra (já está) :))
ReplyDeleteahhhhhhhhh!!! é que eu leio tudo até ao fim com uita, muita atenção!!!!:-)
ReplyDeleteSimples e objectivo. Sem dúvida.
ReplyDelete