Monday, June 14, 2010

A régua e esquadro

Há pouco apanhei uma notícia no Economist (e digo "no" porque eles desde o século XVIII se referem a si mesmos como 'this newspaper', e a tradição é muito bonita) sobre a violência no Quirziquistão, de raíz étnica como a maior parte dos desvarios que se dão dos Balcãs até para lá dos Urais. Sucede que a raíz do problema está na forma "arbitrária" (cito) como Estaline dividiu os territórios do Uzbequistão, Quirziquistão e Tajiquistão que leva que algumas regiões tenham uma distribuição étnica que não seria pior se tivesse sido pensada de propósito para dar problemas.

Menciono isto porque me lembrou de um episódio das memórias de Winston Churchill, dois volumes épicos que são também a melhor e mais detalhada história da II Guerra Mundial alguma vez editada. Nesse episódio, decorria ainda a Guerra, Churchill relata como entre a amena conversa de circunstância que se seguiu ao jantar, definiu com Estaline, utilizando os objectos do dia-a-dia que estavam à mão junto a um mapa convenientemente deixado sobre a mesa de trabalho, as actuais fronteiras da Polónia, arrastadas uns bons quilómetros para Ocidente, para suster o peso da Alemanha e dar ao povo polaco espaço de afirmação.

O relato detalhado e vívido da brilhante prosa de Churchill faz-nos sentir que estamos na sala enquanto, entre dois goles de brandy e um dos Cohiba de que o primeiro ministro britânico não se separava, se desenha a sorte de uns quantos milhões de pessoas. O que este episódio me lembra sempre é que, nesta era em que tudo parece ser relativo e nada do que façamos parece fazer diferença, todos os actos têm consequência, sejam os nossos pequenos e aparentemente insignficantes gestos quotidianos, sejam as conversas casuais dos donos do Mundo, de regra e esquadro na mão, à volta de um café e de um belíssimo brandy.

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