Saturday, August 4, 2012

Pobreza franciscana



O primeiro exame sério da míriade de fundações e organismos que constituem o "Estado paralelo" construído por sucessivos governos para escapar ao rigor das metas do défice ou das Leis que regem as compras e gastos públicos (ainda hoje se descobriu que metade dos apoios dados pelo Estado no último triénio foram para a fundação responsável pelo Magalhães, uma das bandeiras socialistas, e este está longe de ser dos piores exemplos).

A primeira abordagem séria à extinção das inúmeras empresas municipais que criaram milhares de empregos artificiais à custa dos impostos sobre o trabalho de todos nós, premiando as redes de clientelas dos principais partidos a nível local.

A primeira afronta séria, desde Leonor Beleza, ao poder magnânimo dos médicos, e uma auditoria séria ao SNS que descobriu profissionais a ganharem duas, três ou muitas (num caso detectou-se um médico que recebia anualmente cerca de 500.000 euros do Estado) vezes mais os máximos estabelecidos por Lei, algo que não pode ser seriamente dissociado da penúria do SNS, de que vemos inúmeros sintomas todos os dias, o maior dos quais será o das as remunerações indecentemente miseráveis dos enfermeiros, o elo mais fraco desta cadeira, independentemente destas resultarem de um leilão.

A primeira tentativa séria de dar uso aos milhares de hectares de terra que o Estado tem ao abandono, ironicamente impulsionada por uma ministra que está no extremo oposto do expectro político relativamente aos defensores da reforma agrária, uma autoria que horrorizaria quem nos anos 70 e 80 gritava que a terra devia ser dada a quem a trabalha.

Estes são alguns exemplos mais recentes de mudanças que o Governo tem feito, e que se obviamente não estarão isentas de críticas na forma ou na execução, têm o mérito de terem existido, mais do que o que poderá ser dito dos governos anteriores.

É a análise destas e de outras medidas, procurando descobrir o que está menos bem feito, que se esperaria de uma Oposição interventiva e informada. O que temos tido, em vez disso? A discussão dos vários significados do verbo "lixar", e a retórica tão vazia quanto irresponsavelmente populista do PS que diz estar "do lado oposto ao Governo e à Troika", e mais recentemente um conjunto de atoardas sobre a privatização da TAP que ficariam bem numa dicussão de café, mas ficam claramente mal ao líder de um partido que supostamente deveria ter aspirações a governar, e como tal a saber como funcionam as coisas, e que numa empresa tão deficitária e tão dificilmente vendável como a TAP não se consegue estabelecer à partida um modelo definido que sirva os interesses do País, apenas negociar o melhor possível com base nas ofertas que eventualmente surjam, no limite rejeitando as condições em que o processo é exequível.

Está tudo dito quanto à qualidade das pessoas que supostamente deviam controlar a actividade do Governo e eu, como cidadão, posso nunca ter votado nestes opositores, mas não é por isso que não me preocupa a sua baixa qualidade e fraco domínio das questões, para não falar da pura e simples falta de adesão à realidade dos extremos do espectro político, que leva a que os partidos que hoje estão fora do Governo não mereçam sequer o crédito de saberem qual o papel que lhes está reservado, e que em vez de ladrar de forma automática, e por vezes até desprovida de sentido, contra tudo o que o Executivo faz,  deviam antes andar a vigiá-lo, e a obrigá-lo a ser melhor e mais rigoroso.

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