Todos sentimos já alguma ansiedade pela forma como por vezes parecemos atropelados pelo excesso de velocidade e informação do mundo de hoje, que parece transformar-nos em máquinas de zapping, com dificuldade crescente em concentrar tempo e atenção num só pensamento ou actividade, eternamente a saltar de um estímulo para o outro sem conseguir deter a marcha num único local.
Há no entanto momentos que nos recordam que nem tudo é mau nesta mudança. Há pouco, ao ler uma (para não variar) excelente reportagem do Economist sobre as movimentações na cúpula do poder no Irão, dei por mim a googlar o personagem de destaque, no caso braço-direito do presidente Ahmedinejad, e a viagem que se seguiu pelos links da Wikipedia levou-me a ver as biografias e intervenções recentes de vários responsáveis-chave da estrutura de poder, na tentativa de entender pelo menos superficialmente o percurso e ideias de cada um.
Não o fiz por acaso, mas porque a vida dos persas me interessa desde que, ainda adolescente, e muito por culpa de um romance de Gore Vidal (Criação) que é um dos livros da minha vida, ganhei um fascínio particular pela sua história e império, que os acontecimentos de Junho do ano passado apenas tornaram mais intenso e profundo, pelo que teria sido sempre possível que noutras circunstâncias tivesse querido, como agora quis, aprofundar o tema. Foi ao aperceber-me disso que reparei que há apenas vinte anos teria gasto incontáveis horas e algumas deslocações a bibliotecas, livrarias e arquivos de jornal para conseguir a informação que obtive num passeio de meia hora pela internet. E aí lembrei-me que viver nesta era do zapping tem as suas vantagens, porque para além de saltar entre novelas, séries e filmes agora podemos, sem sair do sofá e da mesmíssima inactividade, usá-lo para perceber quem são os homens que determinarão o futuro dos iranianos, ou em última análise o de todos nós.
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