Thursday, April 4, 2013
Um País de especialistas instantâneos
Portugal é, de facto, um País peculiar: em Junho de 2011, quando o País sentia o primeiro impacto da Troika, um tal de Miguel Gonçalves, um jovem empresário e empreendedor cuja presença no programa televisivo 'Prós e Contras' se destacou pela positiva (o que, convenhamos, não é difícil, para qualquer ser com neurónios funcionais, por contraste com a apresentadora da coisa), deixando para a história a expressão "bater punho", foi subitamente alcandorado a revelação do século, uma espécie de guru instantâneo que nos explicava o que estava mal na atitude do País, cujas palavras mereciam aplauso e sublinhado unânimes.
Como nem toda a gente é suficientemente masoquista para assistir a mais que uns minutos de Fátima Campos Ferreira a boa nova chegou ao indígena da forma mais habitual nos dias de hoje: um video no Youtube.
Há uns dias o rapaz foi apresentado (eu sei que foi por Miguel Relvas, mas isso está longe de explicar tudo) como embaixador de um programa de combate ao desemprego jovem que o Governo necessitava de relançar, e num assomo de sinceridade o ministro até disse que o tinha conhecido no mesmo sítio que o comum dos habitantes do facebook, nada mais nada menos que no Youtube.
O que aconteceu em seguida? O tal Miguel ficou debaixo de uma chuva de críticas tão ou mais intensa que o dilúvio de encómios que o deu a conhecer ao mundo, etiquetado em menos que um fósforo como um vendedor da mais pura banha da cobra, um bluff, um golpe de imagem sem substância, alguém que indo trabalhar de borla só pode ter tido garantia de favores da personagem Relvas, e que para cúmulo do ridículo tinha sido "descoberto no Youtube".
O que há de comum entre estes dois momentos? Duas coisas: a primeira é que as pessoas que emitiram opiniões abalizadas passaram mais tempo a escrever o que pensavam sobre o assunto no facebook do que propriamente a informarem-se sobre o tema, ou neste caso a pessoa, que criticavam. A segunda é que muitos dos que agora dispararam a crítica fácil foram os que em meados de 2011 tinham sido tão ou mais céleres no elogio automático (e suspeito que eles próprios não se aperceberam tratar-se da mesma personagem que tinham conhecido... no Youtube).
Em suma, em Portugal temos sempre tempo para ter opiniões firmes sobre tudo, particularmente se estas forem negativas, mas raramente tempo para estudar os assuntos e formar opiniões fundamentadas. Somos um País de especialistas instantâneos.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
nem mais!
ReplyDelete