Em 1995, num País cansado de Cavaco Silva, António Guterres foi eleito prometendo "diálogo", e falando abundantemente da sua "paixão"pela Educação. A piscadela de olho ao tema não era inocente: para além do óbvio apelo aos pais receosos com o futuro dos seus petizes em idade escolar, era uma mensagem para o que é. de longe, o maior grupo de funcionários públicos.
Em Junho deste ano o ministério da Educação tinha. segundo a última síntese estatística do emprego público que o ministério das Finanças apresentou à troika, mais de 232 mil funcionários, que representam 38 por cento do total (605.000) de funcionários públicos existentes no País, ou metade da administração central.
Para se ter uma ideia da desproporção, para zelar pela educação do indígena o Estado português conta com perto de oito vezes mais funcionários do que para zelar pela sua saúde (31.034), e quase cinco vezes mais do que é necessário para garantir a Segurança Interna (48.724), ou seis vezes a Defesa (41.280), do País. Nos Açores e Madeira a situação não é diferente: a secretaria regional açoriana da Educação tem nos seus quadros metade dos funcionários públicos da região, enquanto a sua congénera da Madeira chega a astronómicos 65 por cento.
Não sou perito em educação, apenas um de milhões de portugueses que passaram pelo sistema de ensino público. nem consegui encontrar, numa pesquisa rápida, dados fiáveis sobre o número exacto de alunos que frequentam actualmente o sistema de ensino, mas não é preciso ser perito, ou saber fazer muitas contas, para perceber que o rácio de funcionários por aluno há-de ser assombrosamente baixo, e que muito provavelmente algo está errado.
Era isto que gostava que me explicassem: porque tem o ministério da Educação tanta gente, ainda por cima para prestar um serviço que está longe de ser reconhecido como excelente? Como é possívelΩ ser tão grande que um corte de apenas 5 por cento nos seus efectivos representasse mais funcionários que todo o sector empresarial do Estado? Não sei como ficarão os resultados da próxima série, depois do corte na contratação de professores para o novo ano lectivo, mas uma coisa é certa: se vamos começar a ter que fazer contas para perceber o Estado que conseguimos pagar, o ministério da Educação é um bom sítio para se começar a praticar o uso da calculadora.
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