Wednesday, August 7, 2013

Falhar no óbvio
















Demitiu-se hoje o Secretário de Estado que tinha supostamente tentado vender SWAPs a Sócrates, e que, de uma forma quase cómica, alegava em sua defesa que só ia para as reuniões fazer número (suponho que também fazia côro quando lhe pediam, e nalguns dias recolhia os pedidos de cafés para poupar tempo à secretária) e só fazia lobby para o Banco que lhe pagava o salário, mas não vendia nada.

É só mais um episódio desta novela que, mais do que qualquer outra coisa, revela que Passos Coelho é desprovido da mais pequena réstea de bom senso, aquela réstea que  até o mais alienado tem quando ouve os outros. Senão vejamos: nomeou Maria Luís Albuquerque para ministra das Finanças quando esta, então secretária de Estado, já estava a ser ouvida pelo Parlamento sobre o seu grau de conhecimento dos contratos de Swap, isto deixando de lado a reacção do seu parceiro de coligação.

Não era preciso ser politólogo (basta ter visto dois episódios de West Wing com o som desligado) para perceber o que se ia passar a seguir: a oposição ia aproveitar alegremente a oportunidade para saltar em cima da Ministra das Finanças, e ainda por cima uma oportunidade duplamente dourada, pelo ataque fácil ao Governo, e por estarmos na 'silly season', onde a ausência de assunto leva a que o tema Swaps se tenha tornado facilmente no prato preferido dos media, que têm tantas páginas para encher neste mês de férias quanto em qualquer outro.

É que Maria Luís Albuquerque até podia ser totalmente inocente no caso das Swap, e o seu secretário de Estado vítima de uma cabala feita com documentos manipulados, mas isso é irrelevante, porque o que resulta daqui, para a maioria das pessoas, que não sabe nem quer saber as minudências associadas a um contrato de derivados, é que há um problema, mais um, em que os erros podem ser de qualquer um dos suspeitos do costume, mas a conta no fim é sempre paga pelo contribuinte.

Ora face a isto, num momento em que a credibilidade dos políticos, que nunca foi grande junto do indígena, está no nível mais baixo de que há memória, e em que estamos sob um garrote financeiro e fiscal de administração estrangeira, qualquer pessoa com dois dedos de testa perceberia que a última atitude a tomar seria nomear uma ministra que pudesse ser assada em fogo lento em audiências no Parlamento desde o dia da posse, já para não falar da forma como o momento tornava imperiosa a escolha de alguém com curriculum e credibilidade inatacáveis.

Tudo isto é particulamente grave por uma razão simples: é que se nos restantes aspectos da governação a pouca experiência profissional e fraca noção do mundo em que vivemos podiam explicar alguns erros de Passos Coelho, aqui trata-se de táctica política pura e dura, precisamente a única coisa para que a escola (?) das 'jotas' devia ter preparado o Primeiro Ministro. Ora se na parte que é suposto dominar Pedro Passos Coelho comete erros deste calibre, só nos resta rezar para que não tenha a mania de dar ideias aos restantes membros do Conselho de Ministros.